"Mau grado a contra-ofensiva muçulmana que se seguira às grandes conquistas de Afonso Henriques e Sancho I, a linha de fronteira deslocara-se definitivamente para Sul, atingindo o Tejo e prolongando-se por enclaves vários no Alentejo, que correspondiam exactamente a grandes cidades.
No entanto, uma Silves, uma Faro e uma Mértola continuavam islâmicas..."
(...)
"Fácil era dizer que o Sul, esvaziado de gentes, fora conquistado pelo Norte que lhe impusera as suas caracteristicas.
Foi essa a história que, durante séculos, se ensinou a gerações sucessivas. O Sul, e até o Centro, fora 'povoado','colonizado' pelo Norte, sem sequer se averiguar se as realidades demográficas permitiam tal emigração de nortenhos sem despovoar, por sua vez, o Norte.
Mas, se fora assim, ter-se-iam transferido para o Sul as condições sociais e económicas do país nortenho, não teria sido necessário ir recrutar gente ao estrangeiro para preencher quadros vagos por fugas ou destruições, criar-se-ia, como resultado, um país homogéneo e uniforme que a história dos séculos seguintes em nada autoriza a supôr.
(ironia modo on:) O espaço islâmico ficava reduzido às mourarias, ghettos de propicia e fecunda observação etnográfica.
Fora delas, o historiador movia-se em terreno conhecido, igual em Silves e em Guimarães. Uns quantos arcos em ferradura, abandonados à arte exótica, e umas tantas palavras em Al, tema arredado para filólogos, completavam a cena, a contento de todos..." (ironia modo off)
(...)
"O Estado de Portugal - Estado Feudal, entenda-se - vai assim nascer do encontro de duas realidades, da tentativa de fusão do Norte portucalês com o sul moçàrabe-muçulmano. O somatório de duas, em boa verdade de três nações - a cristã, a moçàrabe e a muçulmana - precisava de ser convertido em unidade homogénea, nacional portuguesa."
FONTE: 2º congresso histórico de guimarães, actas, volume 1" de A.H. de Oliveira Marques
domingo, 21 de fevereiro de 2010
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